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O grande desafio: comunicação não é só conversar

Atualizado: 4 de jun. de 2024

A comunicação, na minha opinião, é um dos maiores desafios dos casais contemporâneos. Porém, a comunicação não se resume apenas à conversa, à fala. Segundo Esther Perel, o destaque para a “intimidade pelo diálogo” é, muitas vezes, problemático.


Levando em consideração a construção de gênero, em nossa cultura, a capacidade de expressar sentimentos não é uma característica valorizada na formação da masculinidade. Assim, a “intimidade pelo diálogo” deixa muitos homens perdidos em seus relacionamentos.


Exemplo Prático: Imagine um casal onde a esposa quer discutir seus sentimentos após um dia difícil, mas o marido prefere mostrar apoio através de ações, como preparar o jantar ou fazer um café para ela. A esposa pode interpretar a falta de conversa como desinteresse, enquanto o marido acredita que está demonstrando amor e apoio.


As mulheres, geralmente adeptas da intimidade pelo diálogo, podem ter dificuldade em reconhecer outras formas de comunicação íntima. Falas como “Por que não conversa comigo? Era para você me contar tudo.” são comuns, e muitas mulheres reclamam da falta de confidências.


O grande perigo disso é não valorizar a comunicação não-verbal, a ação, o fazer, a colaboração, o sorriso, o toque. O que gostaria de enfatizar aqui é que, quando não se tem palavras, é possível também expressar cumplicidade e sintonia.


“Nesse sistema, o menos conversador é pressionado a mudar e não se exige do conversador que seja mais versátil.” — Esther Perel

É preciso olhar para o corpo, pois o corpo também fala.


Esther afirma que a supremacia da conversa pode deixar os homens em desvantagem nas relações, mas principalmente mantém as mulheres aprisionadas na sexualidade reprimida, pois nega a capacidade expressiva do corpo feminino. Historicamente, a sexualidade e o intelecto feminino nunca se integraram. O corpo da mulher era controlado e sua sexualidade, contida.


“Quando privilegiamos a verbalização e rebaixamos o corpo, somos cúmplices em mantê-las confinadas.” — Esther Perel

Muitos casais têm problemas de comunicação e buscam terapia de casal, essa sendo a principal queixa. Como Terapeuta de Casal, acredito que essa seja a principal função da terapia: melhorar a comunicação. Porém, o caminho não é olhar apenas para o que é dito, mas também para as diversas formas de expressão, a construção da intimidade, a história do casal, aquilo que é e foi vivido, experienciado.


A Terapia Sistêmica Contemporânea é uma abordagem que vê o casal como parte de um sistema maior, onde cada membro influencia e é influenciado pelo outro. O foco é na dinâmica relacional e nos padrões de interação, ajudando os casais a compreenderem e ampliarem as formas como se comunicam, valorizando também aquelas que já existem, mas estão abafadas.


Em muitos casos, o casal se comunica, mas falta a capacidade de compreender a linguagem de cada um dos membros. Nesse sentido, a terapia de casal é um espaço precioso para desenvolver e ampliar as formas de comunicação, prestando a atenção nas ações, nos gestos, no olhar, no toque, no corpo, no todo.


E para finalizar, "O amor é uma ação, nunca simplesmente um sentimento." — Bell Hooks






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PEREL, Esther. Sexo no cativeiro: Como manter a paixão nos relacionamentos, 2018.

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