A nossa existência é repleta de perdas e ganhos. Segundo Viorst (2005), a renúncia faz parte do caminho do seguimento da vida humana. Pois, durante toda a vida, para crescer, é preciso desistir. É preciso, segundo a mesma autora , encarar aquilo que jamais teremos e tudo que jamais seremos, tanto em relação aos relacionamentos íntimos, quanto aquilo que sonhamos. Muitas vezes, é necessário abdicar de alguns dos mais profundos vínculos com outras pessoas, e até mesmo partes próprias.
As perdas têm como resposta natural e esperada o que chamamos de processo de luto, um momento de crise. Para Parkes (2009, p.42): “[...] o luto é uma experiência de perda e uma reação de anseio intenso objeto perdido [...]”. De acordo com o mesmo autor, qualquer acontecimento que cause mudanças importantes na vida, principalmente os inesperados, testam o sujeito e provocam uma crise, no qual, podem provocar inquietude, ansiedade e muitas dúvidas, até que as mudanças necessárias sejam realizadas.
Vale ressaltar, que recorrentemente ao pensarmos em perdas e lutos, pensamos automaticamente na morte física de quem amamos. Contudo, a perda acontece de forma mais ampla, pois perdemos ao deixar para trás sonhos, relacionamentos íntimos, abandonar e sermos abandonados (Viorst, 2005).
[...] E nossas perdas incluem não apenas separações e partidas dos que amamos, mas também a perda consciente e inconsciente de sonhos românticos, expectativas impossíveis, ilusões de liberdade e poder, ilusões de segurança – e a perda do nosso eu jovem, o eu que se julgava para sempre imune às rugas, invulnerável e imortal (VIORST, 2005, p.13-14).
Sendo assim, a experiência do fim de uma relação não é algo incomum, pelo contrário. Diferente de uma perda por morte física, o rompimento de um relacionamento íntimo é uma morte em vida, é perder aquela relação com o outro, todos os planos, hábitos, tudo que foi construído em conjunto.
Portanto, o divórcio, segundo Viorst (2005), pode trazer discussões constantes sobre propriedades e filhos, sentimentos de ciúmes e até de fracasso. Ou seja, isso afirma que a morte do casamento traz impactos no cotidiano e abala a saúde do casal e família como um todo.
Segundo Martins e Lima (2014), através da psicoterapia em Gestalt-terapia o paciente se conscientiza sobre o seu sofrimento, possibilitando que ele descubra o melhor caminho a tomar para que o sofrimento diminua. Na Gestalt-terapia acredita-se que as pessoas são responsáveis por suas escolhas. Porém, toda escolha pressupõe perdas, e a partir delas o indivíduo se responsabiliza em avaliar e escolher o melhor caminho. Então, a pessoa passa a fazer escolhas mais autênticas, proporcionando uma forma de viver mais comprometida e integrada, escolhendo o que de fato satisfaça as suas necessidades naquele momento.
Vivenciar o luto é saudável e é preciso reconhecer seus sentimentos em situações de perda. No processo terapêutico se estimula que o cliente esteja consciente do que de fato está acontecendo em sua vida, para que ele possa se refazer e perceber de formas diferentes e singulares suas perdas. Ao vivenciar as emoções que surgem em situações de perdas, a assimilação de fato ocorre mais facilmente.
Para Perls, Herffeline e Goodman (1997, p. 85): “[...] há reações regulatórias do próprio organismo, tais como chorar e ficar de luto, que ajudam a restaurar o equilíbrio, se ao menos permitirmos que o façam”.
Desse modo, a psicoterapia gestáltica caminha para que o cliente consiga demonstrar suas emoções, tais como: culpa, raiva, suas lamentações, suas frustrações, todos os sentimentos existentes nesse processo, que por muitas vezes, são evitados, sucumbidos, escondidos, ocasionando assim, situações inacabadas. Cabe ao psicoterapeuta estimular o contato com essas emoções, já que vivenciá-las é fundamental para o fechamento da Gestalt, sem julgamento e principalmente, com validação e acolhimento da dor do cliente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARTINS, Marize; LIMA, Patricia Valle de Albuquerque. Contribuições da Gestalt-terapia no enfrentamento das perdas e da morte. IGT rede, Rio de Janeiro, v. 11, n. 20, p. 01-39, 2014 .
PARKES, Colin Murray. Amor e perda: as raízes do luto e suas complicações. São Paulo: Summus editorial. 2009.
PERLS, Frederick; HEFFERLINE, Ralph; GOODMAN, Paul. Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 1997.
VIORST, Judith. Perdas Necessárias. 4ª Edição. São Paulo, Melhoramentos, 2005.
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